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Nada novo sob o sol

Com o resultado das urnas no primeiro turno, xenofobia contra Nordeste dispara com ataques em rede

11 de outubro de 2022

Edição Luana Sena

Quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) iniciou a contagem dos votos das eleições deste ano, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) se manteve em primeiro lugar, com 48% dos votos válidos, enquanto o ex-presidente Lula (PT) estava com pouco mais de 41%. O cenário mudou quando as urnas da região Nordeste começaram a ser apuradas. Por volta das 20 horas, Lula mudava o caminho e liderava o primeiro turno. 

Lula obteve vantagem em todos os nove estados do Nordeste. Já Bolsonaro, saiu à frente nas urnas da região Centro-Oeste, no Distrito Federal e nos três estados do Sul do país. Sozinha, a região deu ao candidato do PT 12,9 milhões de votos de vantagem em relação ao oponente, Bolsonaro. A vantagem e o favoritismo aos governos da legenda nesse pedaço do país despertou ataques xenofóbicos na internet.

Postagens preconceituosas associam o Nordeste à pobreza, a brasileiros dependentes de “assistencialismo”, enquanto as demais regiões do país são responsáveis pela produção de riqueza. As publicações também chamam a região de “Cuba do Sul” ou Venezuela.

Os ataques são, em sua maioria, de pessoas que moram no Sudeste e no Sul do Brasil. Em Minas Gerais, a advogada Flávia Moraes foi exonerada  do cargo de vice-presidente da Comissão da Mulher Advogada por xenofobia, pela Ordem de Advogados do Brasil (OAB). “A gente não vai mais alimentar quem vive de migalhas”, disse em vídeo publicado em suas redes sociais, referindo-se à população nordestina. 

Leia mais: Ataques xenofóbicos costumam acontecer no período pré-eleitoral, 90% dos casos em ambiente virtual

A Ordem dos Advogados do Brasil do Piauí (OAB-PI) emitiu uma nota de repúdio contra as manifestações xenofóbicas destinadas aos nordestinos. A OAB-PI afirmou que o Nordeste representa cerca de 25% da população brasileira – ou seja, é a segunda região mais populosa do país, com mais de 53 milhões de habitantes. 

Para além de sua importância econômica, riquezas naturais e diversidade cultural, aqui nasce um povo trabalhador e orgulhoso de suas origens”, diz o texto. “As agressões não se coadunam com os ideais de solidariedade, serenidade, civilidade e bom senso que deveriam orientar a sociedade para a construção de um país fraterno, justo e inclusivo”, registrou a OAB. 

Na última quinta-feira (5), durante uma transmissão ao vivo, o presidente Bolsonaro referiu-se aos nordestinos como analfabetos e sem cultura. Além disso, ele culpou o Partido dos Trabalhadores pela situação. Contudo, os dados mostram realidades diferentes: em 2021, entre 10 alunos que receberam nota 1.000 no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), sete eram mulheres nordestinas. A região também lidera o quadro de medalhas nas Olimpíadas de História.  

Para a professora e socióloga Ana Bezerra, a xenofobia está ligada ao etnocentrismo brasileiro,  quando se compara a região Sul e Sudeste como superiores pelo seu poder socioeconômico. “A desigualdade social e política também é um dos fatores que contribui para tais comportamentos”, comenta Ana. “Em época de eleições, pessoas preconceituosas se aproveitam da situação para propagar seu ódio diante dos nordestinos”, finaliza. 

O aumento dos ataques em época de eleições foi constatado pela pesquisa da Safernet – ONG de proteção dos Direitos Humanos no ambiente digital. Segundo a Safernet, um dia após o pleito do dia 2 de outubro, foram registradas 348 denúncias de xenofobia, cerca de 14 denúncias por hora. No dia anterior, a organização já tinha registrado dez relatos. 

O Piauí foi responsável pela maior porcentagem de votos para o candidato do PT. Lula conquistou 74,02% dos votos válidos no estado. Na cidade de Guaribas (PI), o ex-presidente, criador do Projeto Fome Zero, obteve 92,12% dos votos. Na Bahia, 69,7% dos eleitores votaram no petista, o município Wanderley, na Bahia, é o mais lulista do Brasil – por lá, Lula teve 96,61% dos votos. 

O Piauí também tem conquistado grandes feitos nos últimos anos no âmbito educacional. A nota do estado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) aumentou em 2021. Atualmente, o Piauí ocupa o 9º lugar no ranking nacional de educação, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC). Com o grande avanço do estado, a capital também não fica para trás. Teresina apresenta a melhor educação básica do Brasil, em Língua Portuguesa e Matemática, de acordo com a avaliação nacional do Ideb. 

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