sexta-feira, 3 de maio de 2024

Nova era Alepi?

Franzé Silva (PT) assume novo ano legislativo na Alepi; Themístocles interrompe 9º mandato de deputado, mas deixa filho na cadeira

03 de fevereiro de 2023

Edição Luana Sena

Rafael Fonteles (PT) não deve ter o trabalho de articulação nos próximos quatro anos para dialogar com o legislativo estadual. Na abertura da 20ª Legislatura da Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi), o líder da bancada do Partido dos Trabalhadores, Fábio Novo (PT), deu início ao novo ano legislativo ressaltando que, pela primeira vez, a legenda era majoritária na casa. Na legislatura passada, havia cinco deputados, nesta 12 deputados petistas marcam presença na Alepi.

Ao todo, 30 deputados tomaram posse nesta quarta-feira (1). O deputado Franzé Silva, também do PT, foi eleito presidente da casa e segue à frente da mesa diretora até 2024. Para o novo presidente, o Piauí vive um momento histórico: dois homens negros, pela primeira vez, assumem a presidência dos poderes legislativos. Ele se refere ao vereador Enzo Samuel, recentemente eleito presidente da Câmara Municipal de Teresina. “Estamos destravando uma tradição e abrindo caminho para a inclusão nas casas do povo”, ressaltou Franzé.

Por outro lado, ao passo que a representatividade racial ganha espaço nos destaques do legislativo, a representatividade de gênero ainda permanece reduzida na Câmara. Dos 30 deputados, somente quatro mulheres representam o legislativo.  São elas: Ana Paula (MDB), Bárbara do Firmino (PP), Gracinha Mão Santa (PP), e Janainna Marques (PT). Nenhuma das mulheres se autodeclararam negras. O fato não passou despercebido pelo deputado Fábio Novo que, ao final do discurso, comprometeu-se em trabalhar para que a Alepi fosse mais aberta e sensível às causas das mulheres. 

No último pleito, o Piauí elegeu os novos nomes que vão representar o estado na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa em 2023. Mas os nomes nem são exatamente novos. Segundo apuração da reportagem, 25% dos candidatos eleitos possuem um padrinho político, ou parente direto. 

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Na Câmara Federal, o resultado é ainda menos representativo. Pela primeira vez em 20 anos, nenhuma deputada representará o Piauí em Brasília. Dos dez deputados federais eleitos, apenas dois apoiaram projetos de interesse das mulheres.

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Ainda durante a abertura do ano, Rafael Fonteles firmou compromissos com a Casa Legislativa: como era feito na gestão de Wellington Dias, a cada quatro meses serão apresentados resultados fiscais. A ideia, segundo o governador, é que bases e oposições possam acompanhar e fiscalizar o trabalho desenvolvido pelo executivo nos próximos quatro anos de gestão. “Um governo mal fiscalizado não cresce”, afirmou o governador. 

Outro apelo feito pelo governador é para que a Casa esteja cada vez mais aberta a movimentos populares e sindicais. “A prioridade desse governo é social, justiça, qualidade dos serviços públicos e inclusão”, pontuou. “Aqui é uma oportunidade de fazer com que as pautas do governo federal tenham ambiente propício para o que interessa ao povo piauiense”, destacou. 

Em dezembro de 2022, foi aprovada pela Alepi a resolução N° 04/2022. O documento garante que os parlamentares possam escolher os próximos membros da mesa diretora referente aos próximos dois biênios. Com o novo texto, é modificado o Art.6° da resolução N°503, proibindo a reeleição para o mesmo cargo na mesa diretora. Após 2024, o cargo de presidente da Alepi será ocupado pelo deputado estadual Severo Eulálio (MDB), para o segundo biênio da casa (2025-2027). O acordo teria sido firmado entre o governador Rafael, Wellington Dias (PT), ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, e a bancada do MDB – a segunda maior da casa, com nove deputados. 

Themístocles, o onipresente

Themístocles Filho não cometeu exageros quando disse que, ao sair da presidência da Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi), deixava muito dele por lá. Aos 65 anos, viveu as quase últimas duas décadas à frente da Casa e se tornou o político de candidatura mais longeva do país no comando de uma Casa legislativa estadual. Em 2020, quando foi eleito presidente da Alepi pela oitava vez, não teve sequer adversários, sendo eleito por unanimidade com votos dos 27 deputados presentes na sessão. 

O atual vice-governador foi eleito, pela primeira vez, em 1986. Desde então, conseguiu se reeleger em todos os pleitos. Ao todo, foram quase 34 anos no legislativo. Em 2005, foi presidente da Alepi pela primeira vez, sempre reconduzido ao cargo nas eleições internas da casa. 

Themistocles Filho (Foto: Alepi/Assessoria de Comunicação)

A cadeira de Themístocles agora será ocupada pelo filho, Felipe Sampaio (MDB). Aos 34 anos, o médico foi eleito em seu primeiro mandato com 44.256 votos. Na Câmara Federal, Marcos Aurélio Sampaio (PSD) foi reeleito para o segundo mandato com quase 80 mil votos. Curiosamente, o lançamento dos filhos foi feito em Esperantina, Norte do estado. Por lá, Ivanaria Sampaio, esposa de Themístocles, é a prefeita  do município. 

A família, ocupando cargos políticos, repete uma prática antiga no Piauí. Segundo o historiador Ricardo Arraes, o exemplo da família Sampaio representa um patriarcalismo que costuma reservar cargos para seus filhos. “Sempre reservava-se um filho para as letras, outro para a política e outro para a área jurídica. Sempre cargos masculinos”, destaca. “Na Câmara você encontra os filhos, sobrinhos e esposas”, observa o historiador. “No Senado e cargos executivos, você vai encontrar os pais”, complementa. 

Durante a campanha, Themístocles fez uma divulgação tímida. Raramente dava entrevistas, e mesmo acompanhando o atual governador em diversas viagens pelos municípios piauienses, se esquivava de grandes holofotes. Durante a pré-campanha, quando Rafael buscava aumentar a temperatura da chapa entre os eleitores, a não aparição do deputado foi relacionada a uma baixa popularidade do MDB no estado. A partir do lançamento da pré-candidatura de seus filhos para deputado estadual e federal, o político começou a mesclar sua imagem ao lado do trio petista Rafael Fonteles, Wellington Dias e Lula.    

Uma das suas últimas ações, antes de deixar a Assembleia para assumir o posto de vice-governador, Themístocles apresentou um Projeto de Lei que pretendia reajustar os salários de governador, vice-governador, deputados estaduais e secretários de estado. De acordo com o texto, os salários do Executivo que chegam a 17 mil reais, ganham um aumento escalonado, podendo chegar até 34 mil em fevereiro de 2025. Habilidoso na cena política, antes de apagar as luzes dos seus longos mandados, Themístocles conseguiu aumentar seu próprio salário. 

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