quinta-feira, 2 de maio de 2024

O mesmo sobrenome

25% dos novos candidatos eleitos para deputados no Piauí possuem algum parentesco político

03 de outubro de 2022

Edição Luana Sena

Na noite de ontem (02), o Piauí elegeu os novos nomes que vão representar o estado na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa em 2023. Mas os nomes nem são tão novos assim. De acordo com um levantamento do Transparência Brasil, quase metade dos deputados federais eleitos em todo o país são herdeiros de políticos locais. 

No Nordeste, de um modo geral, essa tendência se acentua: 60% dos deputados têm algum tipo de parentesco político. Nas outras regiões, esse número também varia de 50% a 70%. O Piauí segue o mesmo ritmo. Uma apuração do oestadodopiaui.com verificou que quase 25% dos candidatos eleitos nestas eleições possuem mais que um padrinho político, possuem um parente direto. 

Em 2022, cerca de 16 filhos de políticos estavam na corrida por algum cargo eletivo no estado. Desse total, pouco mais de 60% teve êxito no pleito federal. Um deles foi o deputado federal Júlio César, de 74 anos, caminhando para o seu 7° mandato. Para o cargo, ele foi o que mais obteve votos: 134 mil. Tal pai, tal filho: Georgiano Neto também foi reeleito como deputado estadual no Piauí, conseguindo a maior porcentagem de votos e segue para o seu 3º mandato. No Senado, a família também conseguiu deixar outro membro. Jussara Lima, mãe de Georgiano e esposa de Júlio César, é a primeira suplente do senador eleito Wellington Dias (PT). 

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Em segundo lugar no total de votos está o deputado estadual Severo Eulálio, com mais de 59 mil votos. Ele descende de uma família de políticos, carregando o sobrenome do pai, Kleber Eulálio, que foi deputado estadual no Piauí entre os anos de 1985 e 2012, e é hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Piauí.

O parentesco chega a cruzar quase todos os cargos – mesmo que indiretamente. Rafael Fonteles (PT),  o mais novo governador do estado, é filho do ex-deputado estadual e federal, Nazareno Fonteles, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores no Piauí. Seu vice-governador Themístocles Sampaio, teve dois filhos eleitos e passou a cadeira para os filhos: Marcos Aurélio Sampaio (PSD), deputado federal, e o Dr. Felipe Sampaio (MDB) como deputado estadual.  

Senador em mandato, Marcelo Castro (MDB) também presenciou a vitória do filho, Castro Neto (PSD) com 6,25% dos votos válidos. O mais novo deputado federal também é o atual diretor do Departamento de Estradas e Rodagens (DER-PI).

Bárbara Soares (PP), filha do ex-prefeito Firmino Filho e da deputada Lucy Soares, conseguiu se eleger com pouco mais de 35 mil votos. Durante a campanha ela chegou a trocar o nome político por Bárbara do Firmino. Parte do eleitorado viu isso como estratégia para herdar votos do pai. Agora ela irá herdar a cadeira da mãe, que é deputada estadual.

Caminho semelhante foi o de Gracinha Mão Santa (PP). Como o próprio sobrenome evidencia, a filha do atual prefeito de Parnaíba obteve mais de 39 mil votos e conseguiu garantir sua vaga na Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi). 

Já o prefeito de Picos, Gil Paraibano (PP) comemorou a vitória de Aldo Gil (PP). O filho conquistou o cargo de deputado estadual com 29.600 mil votos.  

Átila Melo Lira é filho do atual deputado Átila Lira. O candidato já se projetava no cenário político local mesmo antes das eleições. Os nomes quase chegam a se repetir na urna, não fosse pelas fotografias. Ele se elegeu como deputado federal e agora trilha o mesmo caminho do pai.

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Flávio Nogueira (PT) teve seu primeiro mandato de deputado em 2014, como suplente. Nas eleições deste ano, conseguiu se reeleger como deputado federal. Seu filho, Flávio Nogueira Júnior (PT) também se reelegeu, e segue para o 4º mandato como deputado estadual, seguindo a carreira política da família.

Para a doutora em Sociologia, Maria Queiroz, a persistência de uma herança familiar é uma das dimensões limitadoras da cidadania política, uma vez que estabelece condições diferenciadas na disputa de votos. Uma das evidências é que jovens e inexperientes candidatos, quando oriundos de famílias com trajetórias consolidadas no poder, entram nas campanhas referendados por um capital político que lhes permite ascender ao parlamento de modo precoce, explica Queiroz. “Isso ocorre a despeito de suas capacidades e de caminhada política própria”, complementa. “Elegem-se com base em votos herdados de modo natural pelo pertencimento à família, bem como a partir das relações políticas construídas anteriormente e pelo suporte de poder que o exercício em cargos políticos assegura”, finaliza. 

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