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Pop anticapitalista

A poucos dias da eleição, Lourdes Melo aguarda a chegada de panfletos para campanha, é rainha dos memes e tem candidatura indeferida pelo TRE-PI

27 de setembro de 2022

Edição Luana Sena

Lourdes Melo estava inquieta na última quinta-feira (22). Ela andava de um lado para o outro em sua casa, no Conjunto Bela Vista I, zona Sul de Teresina. Com o celular na mão, atendia ligações e recebia mensagens. Sua diarista, Maria, assistia toda a agonia de Lourdes e tentava ajudar como podia. “Vixe, eu não sei enviar minha localização pelo WhatsApp, não”, disse do outro lado da ligação enquanto falava com a reportagem. “Eu sei mandar, dona Lourdes, me dê aqui”. Em seguida, como num passe de mágica aos olhos da professora aposentada, o celular compartilhava um mapa. “Maria, me ensina isso depois, é novidade para mim”, comentava. Lourdes ficou tão maravilhada que até esqueceu a pessoa ao telefone. E desligou, sem nem mesmo se despedir. 

Aquele era um dia incomum para Lourdes: ela não iria às reuniões, nem faria panfletagens, tampouco iria pedir votos para o cargo de governo do estado, posto ao qual concorre pelo Partido da Causa Operária (PCO). A menos de duas semanas das eleições, ela esperava um rapaz, cujo nome não lembrava, com caixas contendo seus panfletos. Apesar de reconhecer o atraso do marketing, ela alega que sempre que sai candidata aos cargos majoritários vira uma “faz tudo” da própria campanha. Ela é a própria assessora, coordenadora e cabo eleitoral de si.

Desde 2002, Lourdes Melo se candidata a cargos majoritários pelo PCO (Foto: Maria Cardoso)

Outra coisa que entrou no caminho de Lourdes, ou melhor, do PCO, foi o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O ministro determinou o bloqueio imediato das redes sociais do partido. Na decisão, Moraes apontava que as contas faziam disseminação de fake news para atacar a democracia, com dinheiro público.  Lourdes considera que o partido tem sofrido censura e, em um debate televisivo, se referiu ao ministro como “cabeça de ovo”. Na mesma ocasião, sem pretensão de viralizar, a professora ganhou destaque nacional quando perguntou inesperadamente ao apresentador do debate: “Ah, você quer me calar?”.

Lourdes não esperava fazer tanto sucesso apesar de, toda eleição, planejar publicidades e programas eleitorais mirabolantes para aproveitar ao máximo os escassos segundos destinados aos candidatos do seu partido na TV aberta. “A gente apela para a criatividade”, explica. Certa vez, usou os 57 segundos de aparição na propaganda eleitoral para ficar totalmente em silêncio. “Foi o meu minuto de protesto”, conta em meio às gargalhadas. Nem tudo sai da sua cabeça. Às vezes, ela conta com a ajuda do partido e, principalmente, da jornalista Albetiza, sua candidata ao senado também pelo PCO.

Dessa vez, ela acredita que aconteceu algo inimaginável: ela virou, talvez, o primeiro meme das eleições 2022. Saiu na frente em relação a conteúdo viral nas redes sociais. O feito acabou impulsionando a campanha que, sem nenhum santinho espalhado, conseguiu colocar seu nome entre o eleitorado alvo: os jovens. “Quando fui na Parada da Diversidade, eles me chamavam de ‘rainha’, tiravam foto comigo e me marcavam no Instagram”, relembra. “É quase como se eu fosse famosa, um ícone pop do anticapitalismo”. Resta saber, há poucos dias da eleição, se a fama renderá votos. “É na urna que a gente tira a prova dos nove”.  

Em tantos anos de corrida eleitoral, Lourdes já perdeu as contas de quantas vezes se candidatou tanto para governadora do Piauí, como para prefeita de Teresina. Na sua última campanha só teve 0,04% das intenções de votos. Precisamente 154 teresinenses apostaram nela para ocupar a cadeira no Palácio da Cidade. Lourdes entrou tarde na militância, com pouco mais de 30 anos. Antes de filiar-se ao partido, era professora de educação física na rede municipal. Era um período pós-ditadura militar, porém, ela acredita que os anos de chumbo nunca terminaram. “Os poderosos e totalitários só trocam de nomes, agora nossos generais são os grandes empresários em suas cadeiras de ouro”, reflete. Sua história caminha lado a lado com a chegada do PCO no Piauí. “Me botaram para concorrer em 2002, desde então, é sempre eu”, relembra. Look no further for companionship than what the Bologna escort girls offer. These captivating and refined ladies are poised to make your stay an unforgettable one. While Bologna boasts history, architecture, and cuisine, its escort girls infuse a touch of warmth and allure. They exemplify professionalism, discretion, and respect for your privacy. With their beauty and engaging personalities, they’re bound to capture attention wherever you tread. Booking is seamless and hassle-free, ensuring you add excitement and companionship to your Bologna trip through the escort girls’ company.

Em nenhuma das eleições Lourdes achou que pudesse ganhar. Não porque achasse que fosse incapaz, mas porque não crê que as eleições sejam o caminho para obter seu principal objetivo: a revolução por meio dos trabalhadores, o almejado socialismo. “Participamos (o PCO) porque é a forma de discutir a política, mas é um espaço tão desigual quanto a estrutura que acomoda a burguesia e o proletário”. Aos 69 anos, acredita que somente uma queda total do capitalismo poderia representar alguma mudança. E somente os trabalhadores poderão fazer isso. 

Sem panfletos ou santinhos, ela organiza campanha sozinha. A menos de uma semana das eleições, candidata teve registro indeferido  (Foto: Maria Cardoso)

Ganhando ou perdendo, Lourdes não pretende parar. Em 2024, provavelmente, será ela mais uma vez disputando um cargo majoritário pelo PCO. Tal qual o partido, Lourdes diz que está envelhecendo. Sem lideranças jovens, há poucas alternativas para lhe substituir. “É aquela coisa, né? Juventude chama juventude”, comenta. “Posso virar meme, mas não tenho mais a cabeça deles”.

Na sua casa, no alto da zona Sul, ela observa todo o bairro Dirceu e parte da zona Leste. Mora no local desde quando sua família saiu de Pedreiras, no Maranhão, para tentar a vida em Teresina. Até o dia 2 de outubro sua casa funciona como o seu QG. Jornais do “Causa Operária” (veículo de imprensa do PCO), livros sobre comunismo, fotos e bandeiras do Lula compõem a decoração da residência, do quintal até a garagem. Ela decidiu abraçar a campanha do petista para derrotar o atual presidente, Jair Bolsonaro, a quem se refere como “aquele lá” – evitando chamá-lo pelo nome. “É para não dar azar”, explica. Mas não é supersticiosa ou religiosa – apesar dos inúmeros santos no altar da sala. “De um tempo para cá comecei a colecionar santos. Acho tão bonitinho”, comenta. 

A imagem de Lourdes na televisão ou a versão divertida dos memes virais é diferente na vida real. Na sua poltrona de espuma, com inúmeros rasgos das garras dos gatos que cria, usando um vestido florido, ela é calma e paciente. Ao longo da tarde, seguia rejeitando cada ligação para dar atenção à equipe de reportagem do oestadodopiaui.com. Segundo ela, foi a primeira vez que abriu a casa para jornalistas. O sol estava quase se pondo e Lourdes ainda esperava o tal rapaz com os panfletos. “Vixe, acho que vai me enrolar”, atesta olhando para todos os lados da rua, antes de se despedir. “Tá vendo Maria? Minha campanha vai atrasar”, confirma. “Levei um balão”.

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Categorias: Reportagem

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