Pelo menos até outubro, política é a pauta da vez. Resolvemos abordar o tema sob o aspecto feminino. Não só pelo fato de sermos, em essência, uma redação de mulheres – e tudo que se escreve carrega uma subjetividade implícita. Mas também porque os dados mostram alguns fatos curiosos: as mulheres, sozinhas, se quisessem, poderiam eleger o próximo presidente nestas eleições.
Somos a maior parte do eleitorado brasileiro. Ao mesmo tempo, grande parte de nós deixa de ir às urnas e não é difícil imaginar o motivo se você trabalha, é mãe e também dona de casa. Este ano o Piauí registrou a maior taxa de candidatura feminina da história: são 154 mulheres concorrendo a algum cargo político. É animador, mesmo sabendo que não significa representatividade nos espaços de poder – das 31 cadeiras na Alepi, apenas três são ocupadas, hoje, por uma mulher. A mudança vem em ondas. Um passo à frente e já não estamos mais no mesmo lugar.
É perigoso, no entanto, confundir a luta por direitos femininos com candidaturas ditas feministas. Fujamos do discurso vazio “Mulher vota em mulher”. Muitas mulheres candidatas podem ser “laranjas”, apenas para cumprir a cota partidária exigida em lei desde 2009. Elas representam o oposto das pautas feministas. O feminismo é plural e interseccional, e as realidades de mulheres brasileiras, nordestinas, pretas, brancas, periféricas são dissonantes. E, como bem apontou bell hooks, mais vale um companheiro que aderiu à luta com a gente que uma mulher apegada ao pensamento sexista. O feminismo não é anti-homem – ele é antissexismo.
Escrevo este editorial enquanto memes contra a candidata Lourdes Melo, do PCO, circulam por toda a internet na mais perfeita face misógina da política. Enquanto engulo ainda a contragosto o “imbroxável” presidente, explorando a sexualidade e condição de mulher de Michelle. Episódios assim tornam evidentes que, mesmo com algum avanço feminino, o preconceito de gênero sempre mostra sua cara.
Nós, mulheres da redação de oestadodopiaui.com, essa amostra meio privilegiada de mulheres jovens, algumas votando pela primeira vez para presidente – pensamos essa tríade de reportagens em homenagem a quem veio antes de nós: Francisca Trindade, a deputada federal mais votada da história do Piauí. Porque Trindade é Marielle, é também Dilma, Regina Sousa, Teônia e Josina na luta por proteger nossos interesses de mulher. Não vão conseguir nos calar.
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