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Atentos e fortes

Nas últimas eleições, o Piauí teve 3,67% candidatos de 16 a 24 anos; estado segue a porcentagem nacional

05 de agosto de 2021

A vontade de fazer algo por sua cidade e a possibilidade de poder representar grupos marginalizados foi o que motivou Millena Faustino, 29 anos, a se candidatar pela primeira vez nas últimas eleições municipais. “As pessoas realmente acreditavam que seria importante ter alguém jovem, e que já tivesse um trabalho prestado à comunidade se candidatando, para poder representar pessoas que são colocadas à margem na sociedade”, pontua.

A psicóloga foi candidata a vereadora em Oeiras (280km de Teresina). Ainda que não tenha sido eleita, considera a possibilidade de seguir na luta política. “Existe um desejo de continuar na articulação política, não sei se como candidata, mas pretendo continuar sim fazendo com que a política possa acontecer da melhor maneira possível”, acrescenta.

Millena avalia que a participação política de jovens está crescendo, pensamento compartilhado por João Lucas, 28 anos, que também se candidatou pela primeira vez para vereador em Floriano (251km de Teresina). “No cenário nacional temos vários nomes, tanto do campo progressista e de esquerda, como também na direita, e isso acaba influenciando outros jovens a participar da política e entender que a política é importante”, comenta.

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Entretanto, o aumento nas candidaturas segue pouco expressivo. Nas últimas eleições municipais, em 2020, o Piauí teve 393 jovens entre 18 e 24 anos como candidatos, o que corresponde a apenas 3,67% do total, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao todo, o estado recebeu 10.261 candidaturas. Se considerar o gênero referente ao número total de candidatos, 66,7% eram homens e 33,3%, mulheres. O Piauí segue a porcentagem de jovens que se candidataram nas últimas eleições municipais em âmbito nacional: 3,08% candidatos de 17 a 24 anos.

Em relação ao eleitorado, os dados apontam a mesma uniformidade. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os eleitores jovens, na faixa etária de 16 a 24 anos, constituem 13,28% do total de eleitores no Brasil.  Desses, apenas 1,86% – 302.501 pessoas – são filiados a partidos políticos, enquanto o eleitorado piauiense de 16 a 24 anos corresponde a 15,28%. A maior porcentagem de eleitorado reúne mais de uma faixa etária: de 25 a 69 anos, um total de 65,88%.

Política para além do período eleitoral

Ainda que os dados apontem que há baixa presença de jovens nas candidaturas da última eleição, a cientista política Marília Gabriela de Sousa defende que a participação dos jovens está aumentando, mas que essa é uma transformação lenta e que requer um tempo maior para ser notada dentro do contexto eleitoral. “É importante pontuar que o jovem que participa da política não necessariamente é aquele que está se candidatando”, explica a especialista.

O engajamento dos jovens com a política está associado ao maior interesse em participar das mudanças que ocorrem ao seu redor, buscando entender o contexto nacional e local e até organizando manifestações voltadas para pressionar o governo por políticas públicas. Para Marília Gabriela, muito antes de garantir a representatividade nesses espaços de poder é preciso formar o jovem politicamente, para que ele participe efetivamente como ator político e que esse é o momento de transformação que está acontecendo no Brasil.

“A gente precisa entender que a transformação precisa acontecer primeiro na sociedade e posteriormente vamos ter a representação disso no legislativo, executivo e em outras esferas de poder”, explica Marília. “Até porque nós não vamos querer jovens despreparados exercendo cargos extremamente importantes simplesmente para afirmar que os jovens estão ali também participando das decisões, não é isso”, finaliza a especialista.

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Categorias: Reportagem

Aldenora Cavalcante

Jornalista, podcaster e mestra em comunicação pela Universidade do Porto.

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