Carlos Henrique de Aragão está rouco. Corria 23 dias do mês de setembro e era difícil conseguir cinco minutos na sua agenda. Tem sido assim há um tempo, desde que instituições brasileiras elencaram o dia 10 como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. O psicólogo teresinense é uma das maiores referências atuais em processos de enlutamento e tanatologia – a ciência da vida e da morte.
À rotina de atendimentos clínicos – que viu a procura por sessões aumentar sobretudo este ano – somou-se o convite para lives e palestras, de Miami a Roraima. Seu feed está repleto de participações em palestras, lives e eventos onde tenta reforçar a importância de cuidar da saúde mental. Além de psicólogo, Carlos Henrique também é acadêmico e discute os assuntos que domina com propriedade – fez mestrado na Universidade Federal do Piauí, onde defendeu em 2013 o trabalho “Os aspectos socioantropológicos que contribuem para a tentativa de suicídio em Teresina-PI”. Anos mais tarde, na Universidade de Brasília, concluiu o doutorado em Psicologia Clínica e Cultura.
A morte sempre foi interessante o suficiente para fazer dele pioneiro nos estudos de luto por aqui. Mas é com foco na vida das pessoas que, além do trabalho clínico e das pesquisas, ele faz parte de expedições humanitárias do Instituto Dharma. Desde 2016, profissionais de saúde tentam levar atendimento e bem estar para comunidades remotas do Brasil e do mundo. Em março de 2020, quando estourou a pandemia do coronavírus, Carlos estava na Uganda, em pleno continente africano. “Por poucas horas não ficamos isolados lá, porque fecharam-se todas as fronteiras”, conta.
O trabalho, totalmente voluntário, junta duas das grandes paixões do terapeuta: ajudar pessoas em suas travessias (como costuma chamar os processos de luto) e viajar. “Eu não gosto de viajar, eu tenho ne-ces-si-da-de de viajar, é diferente”, brinca. Esta entrevista, prevista para falar do luto e da ciência que estuda a morte, surpreendentemente virou um papo entusiasmado sobre a vida – sempre desejada.
Luana Sena: Você me ligou minutos antes da entrevista… você é uma pessoa ansiosa?
Carlos Henrique Aragão: Na verdade, como eu lido com esse tema do comportamento suicida há 15 anos, sempre que posso faço contato prévio a fim de evitar um efeito de contágio. Quando nós comunicamos algo que não esteja dentro de um contexto de evidências, podemos causar um impacto negativo principalmente em jovens vulneráveis. É por isso esse meu preciosismo. Mas, se eu sou ansioso? Eu não vou dizer hiperativo porque isso requer um diagnóstico médico – o termo hiperatividade ficou muito banalizado, assim como depressão. Eu tenho déficit de atenção. Isso eu sei que eu tenho. Por outro lado, eu tenho uma virtude que, quando estou dentro de uma experiência, eu mergulho nela – pode ser ver um pôr-do-sol, ou qualquer coisa. Eu sinto e me entrego. A clínica é o ambiente onde realmente eu esqueço do mundo externo. Posso passar sete horas ali e meu mundo está lá, no discurso dos meus pacientes e nas minhas interações. Fora da clínica e fora de uma experiência mais intensa, eu realmente penso em muitas coisas. Faço algo, e de repente outro projeto aparece, já me envolvo e faço muitas coisas. Mas não acredito que eu tenha uma dose de ansiedade acima daquilo que todos nós temos, e que é importante até que a gente tenha. Porque à medida em que a ansiedade ou qualquer outro sentimento passa do razoável, pode ser caracterizado como um transtorno. O Brasil, inclusive, é o país que tem a maior prevalência de transtorno de ansiedade na América Latina, e a pandemia trouxe um aumento nessas taxas.
Os termos hiperatividade e depressão viraram comuns ao nosso cotidiano. Na sua opinião, estamos virando uma sociedade viciada em diagnósticos?
A questão do diagnóstico é muito importante. É o diagnóstico fechado que dá a condição ao médico de fazer um plano medicamentoso e, ao psiquiatra, um plano terapêutico. No caso da psicoterapia, também. À medida em que nós temos o diagnóstico de algum transtorno mental que se apresenta, podemos ter estratégias terapêuticas ou uma maneira de trabalhar com aquela pessoa sabendo a conjuntura e os critérios que preenchem o diagnóstico de determinado transtorno mental. Por outro lado, eu penso que há sim algum excesso em relação a diagnósticos, especialmente de alguns transtornos, como por exemplo o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Pode haver excesso, de repente, por causa de uma desatenção. A gente sabe que o serviço público de saúde não oferece aquela estrutura, na maioria das vezes, necessária para o bom atendimento, criterioso e qualificado, em função da demanda ou falta de uma equipe maior e estrutura adequada. O luto, por exemplo, só há pouco tempo foi catalogado no último DSM, que é o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), da Organização Americana de Psiquiatria e Psicologia. Foi caracterizado o transtorno do luto prolongado.
Isso é recente?
Sim, nos últimos quatro ou cinco anos. Eu acompanhei a discussão de grandes nomes do estudo de luto, inclusive do Brasil. Boa parte dos profissionais não têm uma formação sólida na área do luto – não se vê na faculdade, nem de psicologia nem de medicina. Não há profundidade. Quem quer estudar luto, tem que fazer isso fora, como eu fiz. E aí você vê, por exemplo, uma mãe que perde um filho e após seis meses ela chega no médico, e ele com um pouco menos de cuidado talvez não avalie bem o contexto dessa pessoa, por não ter uma profundidade maior, talvez caracterize aquela pessoa com algum tipo de doença. Pode até ser que tenha – mas pode ser que a intensidade daquilo que se apresenta ainda seja reflexo dos sintomas de um luto normal, que não precisa ser medicado. É uma linha muito tênue entre o que é positivo e o que é negativo no que se refere à saúde mental.
Existe um tempo certo para viver um luto?
Não, não existe. E isso já é superado há um tempo. Quem não acompanha a evolução dos estudos sobre o luto ainda incorre em alguns erros. Não se fala mais em tempo, nem em cura. O que sabemos é que é um processo psicológico individual: cada um vive da sua forma, cada um vai ter o seu tempo. E isso depende de vários fatores. Ao avaliar, a gente observa algo que chamamos de mediadores do luto: quem era a pessoa que morreu? Pai, filho, vizinho? Mais importante do que isso é a natureza do vínculo que se tinha com ela. Eu posso sofrer mais por um vizinho do que por um irmão, por causa do vínculo. Traços de personalidade, características socioculturais, histórico de perdas, estressores concorrentes… é muito complexo. Uma coisa é perder um ente por suicídio, câncer, velhice, acidente. Cada tipo de morte traz algumas especificidades para o processo de luto. Uma metáfora que uso com pacientes enlutados que chegam pela primeira vez é: nós precisamos fazer essa travessia, como se houvesse um rio. Estamos nessa margem, muito cinzenta, cheia de tempestades, e é muito difícil viver dessa forma. Eu, como terapeuta, nem vou lhe puxar, nem lhe empurrar – muito menos nadar por você. Cada um nada por si. Mas vou ao lado o tempo todo, pra gente se organizar e não se afogar nos momentos difíceis. Não é uma travessia rápida, não é sem dor, porém, é uma travessia possível.
O país está de luto. Estamos há mais de um ano e meio vivenciando mortes cotidianas, em volume alto e intenso na pandemia. Que impacto isso pode ter para nós, enquanto sociedade?
O luto é um processo que ocorre depois de uma perda simbólica ou concreta. A pandemia trouxe muitas perdas simbólicas, além das pessoas que perderam de fato seus entes amados. É um luto coletivo, não tenho dúvida. Durante o ano passado, por exemplo, no período mais severo de isolamento, fomos privados da liberdade de ir e vir. Perdemos nossa liberdade – algumas pessoas, como as do grupo de risco, até hoje vivem essa perda. Vivemos o luto pelo emprego também: quantas pessoas perderam seus trabalhos, empresários fechando suas empresas. É um luto considerável. Outro luto é o do contato: a perda, pelo menos temporária, do tato, do aconchego, da presença do outro. Óbvio que a tecnologia amenizou, mas não resolveu. Eu passei seis meses sem ver a minha mãe, que mora aqui ao lado.Tem um outro que eu também considero que é o luto da perda do mundo idealizado – ou do mundo presumido. O que eu mais escutei no consultório ao longo da pandemia foi: “Mas doutor Carlos, o mundo agora está imprevisível”, como se o mundo em algum momento da história tivesse sido previsível! (diz sorrindo). Desde quando nós vivemos cheios de certezas? A vida sempre foi imprevisível e vai continuar sendo. Mas a pandemia talvez tenha trazido obrigatoriamente essas pessoas para olhar essa realidade. E isso não é fácil. O luto do mundo presumido, de alguma forma, pesou. E, é claro, o principal deles: o luto pela perda de uma pessoa que a gente ama – a pandemia suprimiu os rituais de despedida. Os velórios foram rápidos, com número reduzido de pessoas, e isso traz um prejuízo para muita gente. Os rituais organizam a vida social – e os de despedidas são muito importantes para concretização da morte, para iniciar o seu processo de luto. Eu tive uma paciente que perdeu o filho por Covid e ela não o viu, porque o caixão estava fechado. Ela sabia que ele havia sido reconhecido, tinha a documentação e tudo, mas dizia sempre na terapia: “Doutor Carlos, até hoje eu não sei se realmente era meu filho que estava lá”. Veja a falta, a lacuna que a ausência de despedida deixa quando não se concretiza a morte.
Sua agenda lotada em setembro é um sinal de que estamos descortinando essas discussões fundamentais? As pessoas têm procurado mais ajuda em relação à saúde mental?
Acho que a gente tem melhorado. Os estigmas estão diminuindo, mas estamos ainda longe de sermos uma sociedade livre de preconceitos em relação a saúde mental. Ainda se tem uma carga cultural muito forte que leva a pessoa a negligenciar a importância da sua própria saúde mental e emocional. E, obviamente, se ela não considera importante, não vai procurar ajuda para isso. Os homens hoje estão superando mais essa barreira. Tenho percebido um aumento, ainda que tímido, mas importante, do número de homens que recebo na clínica – para falar da minha experiência. O setembro amarelo é uma campanha que cresceu muito e tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre a importância da prevenção do suicídio – porque o suicídio é um grave problema de saúde pública. Eu sei que ainda há um tabu e uma dificuldade de se falar de morte, e ainda mais de suicídio, mas precisamos abrir essa caixa e olhar o problema de frente, com dados da realidade, reconhecendo que ele existe, que é grave e está cada vez mais perto de nós. Se chego em uma palestra de 100 pessoas e pergunto: “Quem aqui já teve alguém próximo que fez uma tentativa?”, 80% levanta a mão. Em 2020, a Organização Mundial de Saúde decretou que a depressão é a doença mais incapacitante do mundo. Do mundo! (repete com ênfase). Mais do que cardiopatia, do que diabetes, do que qualquer outra coisa. Os transtornos de ansiedade têm crescido absurdamente. A pandemia trouxe isso. Trabalhei mais durante esse período, abri horários que não tinha por conta de apelos e sei que muitos outros profissionais também passaram por isso. Se, após a pandemia, a sociedade do século XXI não colocar a saúde mental ocupando um lugar de prioridade, eu não sei o que mais vai precisar acontecer.
As pessoas, no geral, procuram achar uma relação causal para explicar o comportamento suicida. A dificuldade de tratar o tema como problema de saúde passa também por uma inaptidão do ser humano em lidar com questões mais complexas?
O suicídio é um fenômeno complexo, não damos conta de entender – e olha que estudo isso há 15 anos. Não consigo alcançar o tamanho da dor e angústia de alguém em direção à morte. Óbvio que eu entendo por uma escuta qualificada, mas ainda não é uma forma completa de entendimento. O suicídio é multideterminado, não se há evidências de que alguém, um dia, se matou por nada ou por um único motivo. Ele é fruto de uma complexa interação de vários fatores, que podem ser econômico, genético, cultural, religioso, psicológico, social, ambiental. Não quer dizer que todos precisam convergir para ocorrer, mas dificilmente será um só. Existe uma causa que precipita, a gota d’água, mas sempre há uma história atrás, longa ou curta. Nós estamos nos adaptando a uma dinâmica social muito imediatista, onde você quer saber a causa de tudo – como se os fenômenos tivessem uma única causa e essa causa fosse algo muito fácil de se perceber e concluir. As pessoas enlutadas se esforçam muito para concretizar algo disso, mas muito do que aconteceu e precipitou vai embora com a pessoa. Pode haver indícios, mas as certezas só ela poderia falar. Ninguém tem certeza da vida do outro e ninguém conhece ninguém. A gente tem noções, quando há atenção e presença, e pode conhecer o estilo, as reações. Se fosse assim, eu não escutaria de pessoas que foram casadas 40 anos e fizeram laços de amizades, dizendo: “Eu nunca imaginei que ele faria isso”. A gente tem que desconstruir a ideia de que a gente conhece o outro, a gente nem se conhece. E isso vem de rebote com o grande tabu da vida: a morte. Você ver aqui ao meu redor (aponta para as prateleiras de seu escritório) vários livros sobre morte e o comportamento suicida – e eu não consigo decifrar. O século XX construiu dois grandes tabus: a morte e o sexo. O sexo já foi superado, desde a revolução das mulheres, na década de 70. E a morte permaneceu como o grande tabu, do século XIX para o século XX, entrando também no século XXI. O suicídio é um tipo de morte que carrega esse tabu porque é uma morte enigmática. Para a maioria de nós, o instinto de sobrevivência, manutenção da espécie, prevalece. Se tem um tiroteio, você corre, se protege. Mas aí vem alguém e diz: eu abro mão disso. Como se pode compreender? O suicídio carrega esses estímulos de tabus.
Alguns estudos apontam o crescimento do suicídio entre os jovens. Você tem dados atuais sobre isso?
O último boletim que eu vi da Fiocruz sobre comportamento suicida foi de 2019, mas ele não tem essas caracterizações de cor, credo, gênero, idade. Esses dados são bem difíceis. Ainda que tenha um sistema de informação de mortalidade, como o DATASUS, ainda há muita dificuldade. Em alguns lugares do mundo, como no Brasil, a taxa de suicídio é calculada para cada 100 mil habitantes. Teresina tem a taxa de 10 suicídios de homens, então significa que morrem 10 homens para cada 100 mil habitantes na capital. Nós sabemos que boa parte desse número cresce mais na população jovem. Algumas pesquisas apontam jovens de 15 a 19, outras de 15 a 25 e outras de 15 a 28. Outro dado é que entre 15 e 28 anos, o suicídio é a 2ª causa de morte no mundo – então não é pouca coisa. Existe um dado de 1 milhão de mortes por suicídio no mundo. Catástrofes, calamidades e guerras não alcançam esse número, por isso é um grave problema de saúde pública. Um único caso de suicídio causa impacto negativo, no mínimo, em 100 pessoas. Para cada caso de suicídio, ocorrem pelo menos 20 tentativas. São dados preocupantes.
É possível apontar fatores que fazem isso ser mais recorrente nessa faixa etária de 15 a 28?
Quando a gente pensa em fatores de risco, podemos apontar: ambiente familiar caótico – pessoas que crescem em locais violentos das mais diversas ordens, social, sexual. Um ambiente onde as pessoas são negligentes com seus filhos, ou onde acontecem abandonos. E abandono não quer dizer que a pessoa foi embora de casa – às vezes, mesmo sob o mesmo teto, as pessoas se tornam invisíveis. Outro fator forte é o bullying ou ciberbullying. Mas não necessariamente significam que a pessoa vai pensar em suicídio, mas que eles causam sofrimentos graves que podem caminhar para isso. Crise de orientação sexual também é um grave fator de risco. A pessoa que está descobrindo e descortinando sua orientação e desejo – geralmente adolescentes e adultos jovens com crises profundas porque não são aceitos em casa, na família. Perfeccionismo é algo que também vejo bastante. Há um discurso muito forte que abate os jovens hoje: “eu não posso fracassar, não posso errar”. E isso vale tanto para a aprovação no Enem, como na vida social, na faculdade. O perfeccionista dá um passo a mais para entrar em estágios de sofrimento. É um perfil não adaptável às circunstâncias, é mais intolerante. Está havendo uma legião de garotos e garotas que são produtos nos quais pais investiram, por uma escola cara, e portanto não podem decepcionar.
Acha que isso pode ter um recorte geográfico cultural muito particular de Teresina?
Acredito que sim, mas isso é apenas uma opinião sem evidência. Eu tenho a impressão de que em Teresina – e olha que rodo o Brasil todo, converso com muita gente para observar os comportamentos – há uma dose a mais de uma cultura de altíssima performance. Algumas pessoas não suportam isso.
Sua pesquisa de mestrado inicia um olhar antropológico para tentar entender os altos índices do suicídio em Teresina. O senso comum costuma atribuir isso a fatores como o calor, a cidade, sempre procurando razões simplistas. Você consegue listar esses fatores particulares de Teresina?
Não consigo. Não consigo porque qualquer coisa que a gente levantar aqui vai ser pura especulação. Eu não gostaria de levantar uma hipótese sem a mínima evidência. Muitos fenômenos que acontecem em Teresina acontecem em outros lugares. Calor? Só Teresina é quente? Manaus é quente, Campo Grande é quente. “Ah, não tem praia”. Bela Vista, Roraima, também não tem praia, mas tem muitas comunidades indígenas – lugares com muitas comunidades indígenas próximas costumam ter uma prevalência maior de suicídio. O que eu tentei foi começar um desenho de uma pesquisa – mas um estudo como esse deveria envolver também economistas, arquitetos, psicólogos, psiquiatras, historiadores, sociólogos, antropólogos…
Totalmente interdisciplinar, né?
Totalmente. Precisaria de uma pesquisa dessa magnitude, capaz de olhar de uma forma plural e científica para Teresina e entender um pouco mais dos fenômenos sociais que acontecem aqui. Espero que algum dia alguém possa levantar essa ideia e seguir com a pesquisa, apresentando algo que nos dê um norte de por que nossa cidade ocupa, há bastante tempo, as primeiras posições em relação a taxa de suicídio entre as capitais do país. Essa é uma resposta que eu realmente gostaria muito de ter.
A pergunta final é talvez uma das questões mais antigas da filosofia: a vida vale a pena ser vivida?
Essa é uma questão fundamental da existência humana. Não há dúvidas de que: sim, vale a pena. Os otimistas de plantão vivem fantasiando: “Ah, a vida é fácil viver”. Nessa coisa meio romantizada, não acredito. Não acredito que seja fácil viver, nem tranquilo ou leve. Todos os dias matamos alguns leões. O que não quer dizer que não vale a pena. No meu caso, a essa altura, eu tenho tantos projetos… Conheço 50 países e não vou morrer antes de conhecer pelo menos 100. Essa é a minha compulsão. Tenho muita coisa ainda para fazer. Quando faço meu balanço existencial – que é o que eu sugiro para todas as pessoas com quem tenho a oportunidade de falar – sempre lembro que uma empresa privada, se entra em prejuízo, quebra. A vida também é assim. Ano após ano, a vida dá prejuízo. Se acumular, ela vai quebrar. Se a vida não estiver valendo a pena, ela precisa ser corrigida. Mas é preciso reconhecer e perceber o que está fazendo ela não valer a pena. Tem um discurso que me dói muito, não só como terapeuta, mas como pessoa, e que geralmente ocorre a pessoas na meia idade: “O que eu fiz com a minha vida?”. Isso é devastador. Não desejo a ninguém o custo de uma vida não vivida.
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