segunda-feira, 6 de maio de 2024

Os influenciadores digitais na campanha eleitoral e seu papel na decisão do voto

10 de outubro de 2022
por Redação

Por Ivan Machado* e Joscimar Silva**

 

No cenário bastante competitivo das eleições 2022, a equipe de marketing dos candidatos utiliza da imagem dos influenciadores digitais para ativar politicamente, reforçar posições e até converter voto. Junto a isso, a cobrança do público para conhecer o posicionamento eleitoral dos famosos é cada vez mais intensa.

Ainda nas décadas de 60 e 70, a multipremiada cantora Nina Simone já se questionava “como ser artista e não refletir o tempo em que vive?”, instigando a necessidade da classe em se entenderem enquanto atores políticos. É nesse sentido que na reta final da campanha, os presidenciáveis se deparam com a necessidade de contar com o apoio de celebridades de diversas áreas do entretenimento para endossar a tentativa de espalharem seus discursos e conquistarem votos. E no tempo das mídias sociais digitais, quanto mais seguidores e engajamento, mas chances de um influenciador ser um bom cabo eleitoral.

No geral, o posicionamento político não é uma regra, mas não se pode descartar a importância de que, quando um artista se manifesta politicamente, ele faz da sua arte um instrumento de intermediação política. É importante questionar como isso afeta o posicionamento político dos seguidores/eleitores e se reflete nos resultados eleitorais.

Assumindo a posição de intermediadores políticos, os influenciadores digitais transmitem para seus nichos uma interpretação da realidade, a partir dos problemas que salientam ou escondem, lançando visibilidade sobre pautas defendidas por cada candidato. Por outro lado, políticos buscam nos influenciadores atingir nichos do eleitorado que não são acessados pela campanha convencional.

Por exemplo, nas eleições presidenciais 2022, a mobilização gerada a favor da candidatura do ex-presidente Lula é formada por artistas nacionais e internacionais, que inclui até mesmo aqueles que em alguma outra época de suas carreiras foram aversos a imagem de Lula. Juntos, corroboram com o discurso de que o candidato petista é o mais viável para salvar e reconstruir o país. Como intermediares do voto em Lula podemos citar: 1.Juliette, cantora com quase 6 milhões de seguidores no Twitter, recentemente ressaltou a importância do voto feminino naquele candidato [Lula] que apoia a causa feminista com mais veemência; 2. Antônio Tabet, ator e roteirista com mais de 3 milhões de seguidores, que declarou seu voto como uma tentativa de reverter a atual situação política sob o comando de Jair Bolsonaro, ressaltando ainda suas críticas as gestões petistas. 3. Felipe Neto, que em anos anteriores reverberava o discurso anti-petista em seus vídeos, acredita que a eleição de Lula é o momento de virada pro país voltar a ter esperança novamente.

Do lado oposto, o atual presidente da República e candidato a reeleição, Jair Bolsonaro, tem apoio expressivo de sertanejos, pautados na defesa do agronegócio que foi uma das bandeiras de maior destaque do governo bolsonarista, e esportistas que ressaltam o discurso conservador-reacionário “em defesa de Deus, da pátria e da família”. Dentre os intermediadores do bolsonarismo, podemos citar: 1. o jogador de futebol Neymar Jr. que, após uma série de críticas negativas em relação a tal apoio, teceu falas questionando a democracia e a aceitação de “opiniões diferentes”;  2. também dentre os esportistas, o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, um dos maiores doadores de campanha de Bolsonaro; 3. o ex-jogador de futebol e técnico, Renato Gaúcho. No mundo artístico, um dos casos mais emblemáticos é o apoio da atriz Regina Duarte, que chegou a assumir o comando da Secretaria Especial da Cultura no governo, ficando menos de três meses na função.

Nesse contexto, a competição eleitoral vai muito além da classe política. Influenciadores se posicionam ou são cobrados pelos seguidores mais politizados a se posicionarem. Porém, qual o efeito disso nos eleitores não politizados que seguem esses perfis de influenciadores que se posicionam?

Campanhas eleitorais possuem três objetivos: ativar o eleitorado a pensar sobre temas políticos, reforçar o voto nos eleitores que já preferem o candidato e converter o voto de quem prefere votar no adversário. A tarefa mais difícil numa campanha é a conversão do voto. Será que os influenciadores conseguem chegar a esse ponto?

Ao analisar o engajamento nas postagens de intermediação política feitas por influenciadores é possível perceber ganhos eleitorais nessa intermediação. Porém, as mídias sociais digitais criam bolhas de interesse por determinados conteúdos. É possível furar a bolha e chegar nos eleitores do candidato adversário? Dos casos citados aqui, todos em algum momento conseguiram chegar a eleitores de candidatos adversários, ativando assim determinados temas da campanha interessada. Também é possível dizer que os intermediares conseguem cristalizar preferências e reforçar o voto. Mas ainda cabe estudar e avaliar os reais efeitos dos posicionamentos desses influenciadores na conversão do voto e quais estratégias são mais eficientes nesse processo.

 

* Ivan Machado é mestrando em Ciência Política pela UFPI e membro do Grupo de Pesquisa Informação Pública, além de associado à ABRAPEL – Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais. (ivanmachado1999@gmail.com)

**Joscimar Silva é doutor em Ciência Política pela UFMG, professor no PPG em Ciência Política da UFPI e coordenador do Grupo de Pesquisa Informação Pública, além de diretor Financeiro da ABRAPEL. (joscimar144@gmail.com)

 

segunda-feira, 6 de maio de 2024

0 comentário

Deixe um comentário

Avatar placeholder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *